As cascas de citrinos afastam pragas? O mito e a realidade no jardim
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Resumo
A sabedoria popular tem o curioso hábito de transformar pequenos gestos em soluções milagrosas. Um desses casos é a crença de que as cascas de citrinos, como as de laranja, limão ou lima, servem como repelente natural de pragas no jardim. Esta dica, que circula frequentemente entre grupos de jardinagem e redes sociais, parece simples: basta espalhar as cascas à volta das plantas e esperar que os insetos fujam. Mas será isto verdade ou apenas mais um mito bem-intencionado? Consultámos especialistas e a ciência para perceber o que realmente acontece quando se usam cascas de citrinos no jardim.
Apesar do aroma intenso que se liberta ao cortar um citrino, a verdade é que as cascas por si só pouco ou nada fazem para afastar insetos. Gabrielle LaTora, entomologista agrícola da Universidade da Geórgia, nos EUA, explica que, embora os óleos essenciais derivados dos citrinos — como o limoneno — tenham propriedades repelentes comprovadas, a concentração destas substâncias nas cascas é demasiado baixa para ter qualquer efeito real.
Para se ter uma ideia, enquanto o óleo essencial contém mais de 90% de limoneno, uma simples casca de laranja não chega a 1,2%. Ou seja, o cheiro que se sente ao descascar uma fruta evapora-se depressa e dissipa-se no ar, sem eficácia prática contra formigas, baratas ou outras pragas.
O valor real das cascas para o jardim
Se não funcionam como repelente, as cascas de citrinos ainda podem ter algum valor? Sim — mas não da forma como muitos pensam. As cascas, como qualquer material orgânico, são uma boa fonte de nutrientes, sobretudo nitrogénio, quando corretamente compostadas. Ao integrar as cascas num composto bem equilibrado com outros resíduos, obtém-se um excelente adubo natural para o solo, melhorando a sua estrutura, retenção de água e fertilidade.
Por outro lado, lançar cascas diretamente no jardim não só é pouco eficaz como pode trazer alguns inconvenientes. As cascas demoram muito tempo a decompor-se devido ao seu baixo teor de humidade e à camada cerosa, além de poderem atrair visitantes indesejados — como roedores e alguns animais selvagens. Se o aspeto de cascas espalhadas pelo jardim não incomodar e o risco de atrair fauna oportunista não for um problema, não há nada que impeça essa prática. Mas resultados concretos, não espere.
As alternativas naturais e eficazes
A proteção eficaz das plantas exige mais do que soluções caseiras simplistas. Felizmente, há métodos naturais validados e recomendados pelos especialistas.
O primeiro passo é adotar boas práticas de jardinagem: rotatividade de culturas, culturas-armadilha e a utilização de coberturas de proteção para impedir o acesso dos insetos às plantas mais vulneráveis. Também a promoção da biodiversidade — cultivando uma variedade de plantas e flores — ajuda a atrair insetos benéficos, como predadores naturais das pragas.
Outra opção consiste no uso de óleos essenciais e extratos cítricos, devidamente formulados em produtos comerciais, que possuem concentrações adequadas de compostos ativos. Estes são eficazes contra várias pragas comuns e estão disponíveis no mercado para uso seguro.
Por fim, os inseticidas orgânicos — como o óleo de neem, o sabão inseticida ou o Bt (Bacillus thuringiensis) — oferecem soluções naturais adaptadas a diferentes tipos de pragas. Mas atenção: devem ser aplicados apenas após identificar corretamente o inimigo a combater. Mesmo os produtos naturais podem ser prejudiciais se forem mal utilizados. Ler e seguir as instruções é obrigatório para garantir segurança e eficácia.
Conclusão
O mundo da jardinagem está cheio de truques populares, mas nem todos resistem à prova dos factos. As cascas de citrinos, apesar de úteis na compostagem, não funcionam como repelente natural de pragas. O seu efeito é praticamente nulo quando usadas diretamente no jardim. Para manter um espaço saudável e protegido, mais vale apostar em práticas comprovadas e produtos específicos, sempre com a devida precaução.
Resumindo: as cascas devem ir para a pilha de composto — e os mitos, para o monte do esquecimento.
Foto: Freepik
Colaboração de Buzouro
Publicado há 3 meses | Atualizado há 1 mês
Buzouro promove um estilo de vida equilibrado, sustentável e positivo através de práticas diárias que contribuem para o bem-estar individual e coletivo.
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