Árvores de natal de pernas para o ar, literalmente. Sim, é uma tradição
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Resumo
Pendurar uma árvore de Natal ao contrário pode levantar sobrancelhas, ou a própria árvore. Mas esta prática não é uma invenção do século XXI para impressionar nas redes sociais. Na verdade, tem raízes medievais, razões teológicas e, surpreendentemente, bastante bom senso. Descubra como uma tradição quase esquecida está a regressar às casas europeias e por que talvez mereça um lugar no seu teto este dezembro.
Numa época em que o Natal parece cada vez mais uma competição de brilho, altura e número de luzes piscando em sincronia duvidosa, surge uma proposta que desafia a gravidade e o bom senso aparente: a árvore de Natal de pernas para o ar. À primeira vista, pode parecer um exercício de decoração pós-moderno ou um truque para aproveitar o espaço sob a escada. Mas se a curiosidade for mais forte do que o impulso de endireitar a imagem mental que temos da festa, perceberá que há aqui algo mais antigo, mais simbólico e, diga-se, muito menos óbvio do que parece. Esta não é uma tendência influenciada, é uma recuperação de uma prática com séculos de história.
1. Uma tradição com raízes medievais e um monge com ideias firmes
A inversão da árvore de Natal não surgiu num workshop de decoração minimalista em Copenhaga. Pelo contrário, remonta ao século VII, na Alemanha, com um protagonista improvável: São Bonifácio. Segundo a lenda, o monge beneditino, missionário e reformador, confrontou-se com um grupo de pagãos que adorava um carvalho sagrado. Em vez de entregar panfletos teológicos, derrubou a árvore e, no seu lugar, ergueu (ou melhor, pendurou) um pinheiro invertido. O triângulo invertido do pinheiro servia como metáfora visual da Santíssima Trindade: três vértices, uma unidade. A geometria simples transformava-se em catequese silenciosa.
Mais tarde, na Polónia, a tradição consolidou-se sob o nome podłaźniczka. Tratava-se de uma pequena árvore conífera, decorada com maçãs, nozes, bolachas de mel e fitas coloridas, pendurada do teto por uma corda grossa. Não era apenas um enfeite, era um símbolo de proteção, fartura e renovação. Acreditava-se que a podłaźniczka afastava os maus espíritos e atraiu sorte para o ano novo. E, não menos importante, cabia mesmo em casas onde o chão já estava ocupado por cestos, bancos, fogões de lenha e crianças a correr.
No século XIX, a prática manteve-se viva entre famílias de menores recursos. Como observou o historiador Bernd Brunner no seu estudo Inventando a Árvore de Natal, “simplesmente não havia espaço”. Colocar a árvore no teto não era extravagância: era pragmatismo disfarçado de devoção.
2. O regresso da árvore invertida entre o minimalismo e a nostalgia
Nos últimos anos, as grandes lojas e designers de interiores redescobriram esta ideia não por razões espirituais, mas por duas bem concretas: espaço e impacto visual. Numa altura em que os apartamentos médios em cidades como Lisboa, Berlim ou Amesterdão têm menos de 60 m², uma árvore que ocupa o teto é, literalmente, uma forma de libertar o chão. Livra-se daquele canto apertado onde a árvore se encosta à estante, encosta à janela e encosta à paciência das visitas.
Mas há também aqui um certo humor visual. Uma árvore de pernas para o ar é uma declaração, sim, estamos a celebrar, mas não levamos tudo tão a sério. Funciona especialmente bem em casas com pé-direito alto, entradas generosas ou escadarias abertas, locais onde a árvore, ao ser suspensa, cria um efeito de volume sem ocupar superfície útil. E, convenhamos, é difícil ignorar uma árvore que parece ter saído de um cartoon de animação física.
3. Como fazer sem que a árvore (ou a reputação) caia
Montar uma árvore invertida exige alguma preparação e um mínimo de confiança nas suas habilidades de bricolage. Eis o essencial:
Primeiro, escolha uma árvore leve. Uma artificial, com estrutura metálica leve e ramos flexíveis, é a opção mais segura. Árvores naturais são possíveis, mas exigem cuidado redobrado com o peso e a fragilidade dos ramos.
Depois, fixe um gancho resistente no teto um de carga mínima de 10 kg, de preferência aparafusado em madeira ou betão, nunca colado com fita adesiva super-forte comprada numa loja de conveniência. Enrole um cabo de aço ou corda grossa em torno do tronco (na base da árvore, que será agora o topo), formando um laço firme. Só depois de as luzes, fitas e elementos leves estarem colocados é que se deve inverter a árvore e, idealmente, com a ajuda de outra pessoa. Pendure, ajuste, e só então acrescente os enfeites mais delicados.
Quanto à decoração: menos é mais. A própria estrutura invertida já é chamativa. Evite sobrecarregar os ramos inferiores, que agora ficam mais acessíveis e mais vulneráveis a empurrões, rabos de gato e cotovelos distraídos. Enfeites leves e brilhantes criam movimento; velas (eletrónicas, claro) dão um toque clássico sem riscos. E, se quiser honrar a tradição eslava, uma ou duas maçãs vermelhas e uma fita de linho podem ser uma homenagem discreta.
4. Segurança porque o Natal não combina com emergências
Uma árvore suspensa é um objeto em potencial queda. Por isso, é essencial evitar zonas de passagem intensa. Pendurar a árvore por cima da mesa de jantar ou junto à porta da sala pode ser dramático, mas não no bom sentido. Prefira cantos, vãos de escada ou entradas secundárias. Verifique semanalmente o estado do gancho e das amarras. E, se houver crianças pequenas ou animais de estimação com tendência para saltos acrobáticos, considere reforçar a base com uma rede ou barreira invisível.
Conclusão
A árvore de Natal de pernas para o ar é mais do que um exercício de design ousado. É um lembrete de que as tradições não são estátuas de pedra, são rios que mudam de curso, mas mantêm a nascente. Há séculos, invertia-se a árvore para ensinar, proteger e adaptar-se ao espaço disponível. Hoje, fazemo-lo por razões parecidas apenas com mais luzes LED e menos medo de hereges.
Talvez não substitua a árvore clássica no centro da sala, mas pode ser a estrela de um corredor, de uma varanda coberta ou de uma entrada. E, se nada mais, convida-nos a olhar para cima, algo raro, nestes tempos em que todos têm os olhos colados num ecrã. Afinal, o espírito do Natal não está na direção correta dos ramos, mas na intenção com que os decoramos.
Foto: Freepik Curadoria: Buzouro Autoria do Texto Original: Shelby Vittek Data de Publicação Original: 31/10/2023
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