Transforme a ansiedade num super-poder com a neuroplasticidade
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Resumo
A ansiedade não é um inimigo, é um sinal. Descubra como transformar essa emoção incómoda num aliado surpreendente, usando os mecanismos naturais do cérebro.
Quantas vezes já sentiu o coração acelerar antes de uma reunião importante, ou a mente a correr em círculos à meia-noite, imaginando cenários desastrosos que nunca acontecem? A ansiedade é quase um companheiro invisível na vida moderna. Mas e se lhe dissessem que essa mesma ansiedade — tão incómoda, por vezes paralisante — pode ser uma fonte de produtividade, empatia e até criatividade? A neurocientista Wendy Suzuki, professora da Universidade de Nova Iorque e autora do livro Good Anxiety, propõe exatamente isso: encarar a ansiedade não como um defeito a corrigir, mas como um sinal valioso a decifrar. E, melhor ainda, ensina como usar a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se reorganizar — para transformar essa emoção em algo útil.
A ansiedade é normal — e até útil
Primeiro, é essencial compreender que a ansiedade não é um erro do sistema. É uma resposta evolutiva, desenvolvida ao longo de milénios para nos alertar para perigos reais ou potenciais. Sentir ansiedade diante de incertezas — como uma pandemia global, uma mudança de emprego ou até uma conversa difícil — é perfeitamente humano. O problema surge quando essa resposta, inicialmente protetora, se torna excessiva ou desproporcionada ao contexto.
Suzuki distingue claramente entre ansiedade quotidiana e ansiedade clínica. A primeira é aquela que todos experimentam: preocupações passageiras, tensão antes de um prazo, inquietação perante o futuro. A segunda, mais intensa e persistente, exige acompanhamento médico especializado. As estratégias que abordamos aqui destinam-se sobretudo à ansiedade quotidiana — aquela que, embora incómoda, ainda permite funcionar, mas que consome energia mental e emocional.
O viés da negatividade e a “pedra no pescoço”
Um dos grandes obstáculos ao bem-estar emocional é o chamado “viés da negatividade”. O cérebro humano tende a dar mais peso às experiências negativas do que às positivas — uma característica útil na savana africana, onde ignorar um som suspeito podia significar a morte, mas menos útil no escritório moderno, onde interpretar um email lacónico como um sinal de rejeição só gera sofrimento desnecessário.
Esse viés alimenta um ciclo vicioso: quanto mais ansioso se está, mais se vê o mundo através de lentes sombrias. “Nunca vou conseguir”, “Todos me julgam mal”, “Isto vai correr mal” — frases automáticas que parecem verdades absolutas, mas que são, na realidade, distorções cognitivas amplificadas pelo stress. Suzuki chama a isso uma “grande pedra de ansiedade” que se carrega no pescoço. A boa notícia? Essa pedra pode ser aliviada — e até transformada.
O cérebro em modo de sobrevivência (e como o desligar)
Do ponto de vista neurológico, a ansiedade ativa fortemente a amígdala, uma estrutura cerebral ligada ao medo e à deteção de ameaças. Em simultâneo, inibe o córtex pré-frontal — a zona responsável pelo pensamento racional, planeamento e autorregulação. É por isso que, em momentos de pânico, parece impossível “pensar com clareza”: o cérebro desliga literalmente a parte que nos ajuda a manter a calma.
Aqui entra a neuroplasticidade: a capacidade do cérebro de criar ligações neuronais com base na experiência. Cada vez que se aprende algo novo, pratica uma habilidade ou muda um hábito mental, o cérebro se reconfigura. Isso significa que, com prática intencional, é possível fortalecer o córtex pré-frontal e “ensinar” à amígdala a não disparar em falso.
Os três superpoderes da ansiedade
Suzuki identificou seis “super-poderes” escondidos na ansiedade. Destacam-se três, particularmente acessíveis no dia a dia:
Super-poder 1: Produtividade focada A ansiedade surge sempre em torno do que é importante. Se se preocupa com um projeto, com a saúde de um familiar ou com o futuro financeiro, é porque essas coisas têm valor para si. Em vez de lutar contra a ansiedade, pode canalizá-la: transforme cada preocupação numa ação concreta. “Vou pesquisar soluções”, “Vou marcar uma consulta”, “Vou dedicar 30 minutos a resolver isto”. Assim, a ansiedade deixa de ser um fardo e passa a ser um motor.
Super-poder 2: Microfluxo O “fluxo” é aquele estado de imersão total em que o tempo parece desaparecer — como um músico a tocar ou um escritor a escrever sem interrupções. A ansiedade costuma ser vista como inimiga do fluxo, mas Suzuki propõe o conceito de “microfluxo”: momentos breves de presença plena, mesmo em atividades simples, como uma postura de ioga ou preparar uma chávena de chá. A consciência da própria ansiedade torna esses momentos ainda mais preciosos — e mais frequentes.
Super-poder 3: Empatia ativa Quem já sentiu vergonha de levantar a mão numa sala de aula sabe bem: a ansiedade social é silenciosa, mas universal. Ao reconhecer a própria ansiedade, torna-se mais sensível à dos outros. Um simples “Estou também um pouco nervoso com isto” ou “Precisas de ajuda?” pode quebrar o isolamento e criar conexões genuínas. A ansiedade, nesse sentido, torna-se uma ponte, não uma barreira.
Conclusão
A ansiedade não desaparecerá — nem deveria. É parte integrante da condição humana, um sinal de que se importa, que se envolve, que se prepara. O desafio não é eliminá-la, mas reinterpretá-la. Com os instrumentos certos — conhecimento neurocientífico, autoconsciência e prática — é possível transformar essa emoção incómoda num aliado. A neuroplasticidade garante que o cérebro está sempre disposto a aprender, a adaptar-se, a mudar. Basta dar-lhe as ferramentas certas. E, como descobriu Suzuki no luto mais profundo: por trás da dor mais aguda, muitas vezes está o amor mais genuíno. Talvez a ansiedade seja, afinal, o preço que se paga por viver com profundidade.
Foto: Freepik Curadoria: Buzouro Autoria do Texto Original: Wendy Suzuki Data de Publicação Original: 2022
Buzouro promove um estilo de vida equilibrado, sustentável e positivo através de práticas diárias que contribuem para o bem-estar individual e coletivo.
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