A autoestima condicional é como uma calculadora mental invisível que decide, todos os dias, se somos dignos de respeito e amor. O problema é que esta conta nunca fecha. Descubra como se libertar desta armadilha psicológica e construir um sistema de valor pessoal mais justo, duradouro e saudável.
Há quem viva a vida como se estivesse numa eterna auditoria. Cada conquista soma pontos, cada falha subtrai. Se a apresentação corre bem, há orgulho; se falha, instala-se a vergonha. Esta lógica, embora comum, esconde um erro profundo: o valor de uma pessoa não é o saldo final de vitórias e fracassos. Trata-se da chamada autoestima condicional, um mecanismo mental que parece razoável, mas que, na prática, sabota a motivação, a saúde mental e até o desempenho. O caminho para quebrar este ciclo não é fácil, mas existe — e começa por perceber como o próprio cérebro monta esta “contabilidade emocional”.
1. A psicologia da autoestima condicional
Na década de 1980, o psicólogo Edward Higginsdemonstrou que cada um transporta três versões de si mesmo: quem realmente é, quem gostaria de ser e quem acredita que os outros esperam que seja. Quanto maior for o desfasamento entre estas três identidades, maior o sofrimento.
Este mecanismo é alimentado desde cedo. Em criança, aprende-se que boas notas rendem aprovação, ganhar um jogo traz atenção e ser prestável garante afeto. É assim que o cérebro associa recompensas externas à perceção de valor. A investigadora Jennifer Crockerchamou a estes “gatilhos” de valor pessoal as contingências da autoestima — áreas em que toda a identidade parece estar em jogo.
O problema é que este modelo, apesar de fornecer alguma motivação imediata, cobra juros pesados. Ansiedade, esgotamento, depressão e uma relação tóxica com o desempenho tornam-se inevitáveis. É viver como um atleta que precisa de vencer sempre para provar que merece estar em campo.
2. Como desativar o sistema tóxico de pontuação
Libertar-se da autoestima condicional não implica abandonar a ambição ou deixar de procurar crescimento. Trata-se, isso sim, de retirar o valor pessoal dessa equação injusta. A investigação psicológica sugere três estratégias eficazes:
2.1. Observar a contabilidade interna
Grande parte deste processo acontece no automático. Uma reunião falhada transforma-se num ataque à própria identidade. O exercício é simples, embora desafiante: reconhecer o momento em que o cérebro está a “fazer contas”. Perguntar-se, sem rodeios: “O meu valor depende mesmo deste resultado?”
2.2. Recolher contra-evidências
O cérebro foi treinado durante anos para acreditar que só as conquistas definem valor. Para contrariar esta programação, é necessário colecionar provas do contrário. Relações em que se é aceite sem máscaras, comunidades baseadas em interesses comuns, pessoas que valorizam a presença e não o currículo. Cada momento desses é um desmentido direto à velha equação.
2.3. Diversificar a autoestima
Colocar todo o sentido de valor numa única área — trabalho, inteligência, aparência — é uma receita para a instabilidade. A solução é espalhar os pontos de referência. Um profissional dedicado pode explorar hobbies criativos. Quem sempre foi “o inteligente” pode descobrir atividades que realçam outras qualidades. Passos pequenos bastam: uma aula de improviso, uma caminhada em grupo, voluntariado. É como diversificar um portefólio: reduz o risco e aumenta a resiliência.
3. Os frutos da mudança
Ninguém se liberta da autoestima condicional de um dia para o outro. Foram anos de condicionamento, e a desconstrução exige paciência. Mas os benefícios compensam. Quando o valor deixa de depender de resultados, os fracassos deixam de parecer catástrofes existenciais. Erros passam a ser apenas isso: erros. O cérebro deixa de gastar energia em autojulgamento e recupera foco para o que realmente importa — viver, aprender, criar.
Conclusão
A autoestima condicional é um truque perverso da mente: promete motivação, mas entrega desgaste. Libertar-se dela não significa abdicar da ambição, mas recusar a ideia de que o valor humano é uma soma de vitórias e derrotas. É aprender a jogar sem transformar cada jogada numa sentença sobre a própria dignidade. E, no fim, é essa liberdade que abre espaço para o risco, para a coragem e para uma vida mais inteira.
As informações aqui apresentadas têm o objetivo de fornecer uma visão geral sobre o assunto em causa e não devem ser interpretadas como aconselhamento específico para situações individuais. É rigorosamente recomendável que os leitores realizem as suas próprias pesquisas e consultem um especialista credenciado, com experiência na matéria, antes de tomar qualquer decisão.
Foto: Freepik
Colaboração de Buzouro
Publicado há 2 meses | Atualizado há 1 mês
Buzouro promove um estilo de vida equilibrado, sustentável e positivo através de práticas diárias que contribuem para o bem-estar individual e coletivo.
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