Imaginemos um cenário em que, apesar de desejarem um parceiro, milhares de mulheres decidem que a solidão é preferível a um relacionamento mal construído. Não se trata de misantropia, mas de exigência — ou, mais precisamente, de bom senso. Nos Estados Unidos, este fenómeno está a ganhar contornos históricos: estima-se que, até 2030, 45% das mulheres em idade ativa (entre os 25 e os 44 anos) estarão solteiras, o maior valor de sempre. O que levou a esta viragem? A resposta não está em ideologias radicais, mas em experiências repetidas de desilusão, incompatibilidade e esforço desigual.

1. O que as mulheres procuram — e por que é tão difícil encontrar

Contrariamente ao que se poderia pensar, as mulheres entrevistadas não pedem o impossível. Os traços mais citados são: bondade, inteligência emocional, saúde mental e física, valores partilhados, ambição moderada, estabilidade financeira e maturidade. Nada de super-heróis ou milionários — apenas homens capazes de manter uma conversa honesta, assumir responsabilidades e contribuir ativamente para uma relação de igual para igual.

Sarah, 43 anos, resumiu com elegância: “O meu ‘sozinha’ sente-se tão bem que só te quero se a tua presença for mais doce do que a minha solidão.” Esta frase, longe de ser um capricho, reflete uma mudança cultural profunda: a mulher moderna já não depende de um parceiro para sobreviver económica, social ou emocionalmente. Daí, aceitar menos do que merece deixa de fazer sentido.

2. O problema não é a ausência de homens, mas a qualidade da presença deles

Muitas das mulheres ouvidas queixaram-se não da escassez de candidatos, mas da sua passividade. Mensagens não respondidas, encontros mal planeados, falta de comunicação clara e resistência ao compromisso foram temas recorrentes. Babet, uma esteticista de Nova Iorque, foi direta: “Muitos homens parecem tornar a vida das mulheres pior, em vez de melhor.”

Há também uma perceção generalizada de que os homens, especialmente nas faixas etárias mais jovens, estão atrasados em termos de maturidade emocional e responsabilidade adulta. Laura, divorciada há uma década, chamou-lhe “síndrome de Peter Pan”: homens que recusam crescer, assumir compromissos ou partilhar responsabilidades domésticas e financeiras de forma equitativa.

3. A desigualdade educacional e económica está a criar um fosso relacional

Um dado surpreendente: em muitas regiões dos EUA, as mulheres ultrapassaram os homens em níveis de escolaridade e rendimento. Contudo, isso não se traduziu numa vantagem no mercado amoroso. Pelo contrário — várias entrevistadas relataram que muitos homens se sentem ameaçados por parceiras mais bem-sucedidas. Kelly Wallace, consultora de alto rendimento em Portland, confessou que raramente encontra homens “criativos e financeiramente estáveis” que não se sintam intimidados pela sua independência.

Este desfasamento cria um paradoxo: quanto mais autónoma e realizada uma mulher é, mais estreito se torna o seu círculo de potenciais parceiros compatíveis.

4. A pressão biológica versus a liberdade pessoal

Apesar do discurso contemporâneo sobre a liberdade feminina, o relógio biológico continua a ser uma preocupação real. Kristina, terapeuta de saúde mental em Chicago, admite: “As mulheres estão mais livres do que nunca, mas a questão da fertilidade pesa-me na mente.” Para algumas, como Randi, analista governamental em Chicago, a solução está em repensar a maternidade fora do modelo tradicional: “Prefiro ser mãe sozinha do que perder tempo num namoro sem futuro.”

Outras, como Christal Sharp, artista e fotógrafa no Oregon, optaram por focar-se nos filhos que já têm e na sua carreira, afastando-se de um mercado de encontros dominado por vícios, imaturidade e superficialidade.

5. Ser solteira pode ser libertador — mas também caro

A independência tem um preço. Nicole, professora do ensino secundário em Portland, observa com ironia: “Os Estados Unidos parecem feitos para casais.” Habitação, seguros, impostos — tudo é mais caro quando se vive sozinho. Mesmo assim, muitas mulheres consideram esse custo aceitável, desde que não tenham de “comprar” um parceiro que exija mais do que oferece.

Valerie, 27 anos, resume a atitude de uma nova geração: “Prefiro poupar dinheiro e viver com a minha família do que gastar tempo e energia num namoro que não leva a lado nenhum.”

Conclusão

A decisão de permanecer solteira não é um sinal de fracasso, mas de discernimento. As mulheres norte-americanas não estão a rejeitar o amor — estão a redefinir os seus termos. Querem parcerias reais, não simulações de intimidade mediadas por aplicações de encontros ou sustentadas por expectativas desatualizadas. Neste contexto, a solidão deixa de ser um vazio e passa a ser um espaço de escolha consciente. E, como bem disse Lauryn, do Connecticut: “O meu tempo é meu, o meu dinheiro é meu, a minha casa é minha — sinto-me livre e satisfeita.” Talvez o futuro dos relacionamentos não esteja em encontrar alguém a qualquer custo, mas em ter a coragem de esperar por alguém que valha a pena.

Foto: Freepik
Autor do Texto: Jedidajah Otte/The Guardian

Data da Publicação Original: 8 de outubro de 2025